Dores
A dor de Maria
difere da dor de João. E da dor de Gonzaga. Da dor de Platão.
A dor de Maria corre pelos
pêlos
cabelos
Corre, bagunça seus pensamentos e não foge.
A dor de João queima o rosto. A dor de Gonzaga congela a alma.
A dor de Platão não existe.
A dor de fulano é inventada.
A minha não, é a dor maior. Não dói, a dor engole-me
e eu coitada, durmo.
A dor de Maria faz os dias amanheceram como conquista, como vitória.
A minha dor não cura nada. Não mais conquista
nem um afeto.
A minha dor só dói.
Como a de tantos.
Mas sendo dor,
passamos a ser iguais.
A dor faz com que a humanidade
torne-se mais humana, ou não.
Ei João do cabelo aceso no fogo, na fornalha.
Ei Maria que acorda no banco da praça.
Ei você enfurecido com a unha quebrada.
Nossa dor não cura,
mas existe.
Tua dor é dor.
É dor,
É dor
É dor
e dói, e isso não basta?
Não basta?