ALMA VAZIA
A noite vai tão devagar para o seu destino,
o silêncio que a acompanha é profundo em saudades,
lembra um amontoado de melancolia murcha
vagarosamente iniciando a madrugada.
A tocha do novo dia ainda está apagada,
mas já se vê ao longe os gritos, cândidos,
suaves da natureza para dar via ao novo amanhecer.
Enquanto isso, longe dos sorrisos,
tento sorrir para mim mesmo, e busco sorrir,
embora o espelho, impassível, só mostre
um rosto cansado e amargurado.
Demorada noite irritante que
não deixa a madrugada gerar o alvorecer
Vontade de abraçar seu corpo e me sentir feliz,
de beijar seus lábios carnudos e me sentir completo,
de sentir teu calor e pegar fogo em mim.
São esses anelos que, de súbito,
se agarram ao meu coração e grudam na alma.
Todavia são apenas vãos desejos
que morrem, cansados, no meio do caminho
destruindo-se à guisa de autoimolação,
quiçá mortificados pela indiferença fremente
do teu aborrecido olhar distante.
Muitas vezes chora a minha alma vazia
e suas lágrimas inundam-me o coração,
de forma que dói-me sobremaneira
e apenas eu sei a dor que me vai no âmago,
nada e ninguém as pode enxugar
posto que na alma, no recôndito de mim.