Eu Devia Ser Diferente...


Quando senta-se um senhor ou uma senhora a minha frente, em busca de orientação para requerer a aposentadoria, procuro sempre olhar além dos sulcos no rosto e calos nas mãos.
Cada um chega com um pequeno sonho, sem saber que diante deles esta a moça mais sonhadora e crédula dessa Terra. Muitos não sabem sequer ler, assinar o nome é uma tarefa constrangedora para muitos e uma missão quase maternal para mim.
Meu avô sempre me ensinou que o dinheiro tem o poder de mudar o coração de uma pessoa, mais eu nunca acreditei nisso, porque compartilho sonhos com eles, coisas pequeninas mais fundamentais, como uma mesa mais farta e quem sabe uma vida mais justa.
Depois de me ver nascer, crescer, e até florescer, a esposa do caseiro do sítio hoje também me fez amadurecer. Chegando o momento da merecida aposentadoria, eu sonhei para ela uma vida melhor, mais construída nos alicerces da caridade, assim como aprendi e passei adiante a minha vida inteira. Depois de anos de espera finalmente o dinheiro veio, e eu contente a levei juntamente com sua netinha na cidade para recebe-lo.
A quantia era suficiente para comprar uma casinha na cidade e viver tranquilamente, mais o que me deixou surpresa foi quando a netinha dela pediu a avó uma toalha de banho que custava cerca de dez reais e a avó rispidamente negou. Era um mísero presente, mais que para uma menina pobre significa muita coisa.
Fiquei muito sentida com o choro da menina, mais eu sou daquelas pessoas que acreditam sempre no ser humano, na grandeza de caráter, no bom coração, e na gratidão acima de qualquer valor.
A criança chorou todo o percurso da volta, queria a toalha, foi quando a senhora correu até o varal e arrancou de lá uma toalha que secava, e gritando disse a menina que ficasse com aquela porcaria de toalha, pois agora ela tinha dinheiro e não precisava daquilo mais.
Fui para casa e empurrei o prato intacto na hora do jantar.
O dinheiro não devia nunca um bom coração mudar.
Chorei em demasia
Mas transformo tristeza em ensinamento como poesia
Aquela toalha que ela jogou fora não querendo mais
Foi um presente que ela havia recebido
Com muito carinho da moça de Batatais...






                                                         
 
Raquel Cinderela as Avessas
Enviado por Raquel Cinderela as Avessas em 19/06/2013
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