Hóspede
Pasmai seres dos quatro ventos,
Que as trombetas já dão novas à sutileza
Do dia em que, à minha porta batendo,
Fiz entrar não mais, não menos que a tristeza.
Como um vassalo ao seu senhor a recebi,
Ao meu regaço a aconcheguei tal que um filho,
Ao seu ouvido ternais palavras sussurrei,
Velei seu sono, como a um fruto do meu ninho.
Por certo a musa há de enxergar com nostalgia
Meu ímpeto de benquerer, ter simpatia,
Ao que se espera de imediato relegar;
Mas meu prazer, delírio de grandeza,
Foi ver, enquanto hóspede fiz a tristeza,
A alegria à porta, com insistência, a me chamar.