ANGÚSTIA
Com a noite chegando
engolindo o sol
enroscado nas nuvens,
colorindo o céu,
a tarde morria,
e entre intermináveis,
horrendas lamúrias,
choros e gemidos,
um cão latia
Triste, sozinho,
faminto, sedento,
esquecido, abandonado,
maltratado, cansado,
na rédea curta,
acorrentado,
gritando sua dor
E no silêncio
da tarde que ia
sonolenta e quieta,
o animal latia
angustiado, pobre e só,
sem o amor dos donos,
era apenas
um fardo de melancolia
A escuridão noturna
chegava, a tarde partia,
o cão sem mordaças
atormentando os vizinhos
com seu barulho lúgubre
perturbando o ocaso
que desejava dormir,
arfando preso
na maldita corrente,
chorando, latia
Quanta lamentação,
o povo em derredor,
uns raivosos, outros
misericordiosos,
sem nada poder fazer
calado, ouvia,
corações acelerados,
o muito que aquele cão,
amarrado em curta
corrente de ferro
doloroso, latia
E latia como se,
sem outra atitude
que pudesse tomar,
frágil e humilhado,
uma torpe canção
interminável cantasse
e a nota dessa melodia
somente uma era,
o sofrimento que
dele fluía
Ah quantos latidos
chorados, quantos
gemidos tocantes
na tarde que morria,
todavia ninguém
poderia ajudar
ao coitado do cão
acorrentado,
ao bicho amargurado
que, por isso,
latia e latia.