ANGÚSTIA

Com a noite chegando

engolindo o sol

enroscado nas nuvens,

colorindo o céu,

a tarde morria,

e entre intermináveis,

horrendas lamúrias,

choros e gemidos,

um cão latia

Triste, sozinho,

faminto, sedento,

esquecido, abandonado,

maltratado, cansado,

na rédea curta,

acorrentado,

gritando sua dor

E no silêncio

da tarde que ia

sonolenta e quieta,

o animal latia

angustiado, pobre e só,

sem o amor dos donos,

era apenas

um fardo de melancolia

A escuridão noturna

chegava, a tarde partia,

o cão sem mordaças

atormentando os vizinhos

com seu barulho lúgubre

perturbando o ocaso

que desejava dormir,

arfando preso

na maldita corrente,

chorando, latia

Quanta lamentação,

o povo em derredor,

uns raivosos, outros

misericordiosos,

sem nada poder fazer

calado, ouvia,

corações acelerados,

o muito que aquele cão,

amarrado em curta

corrente de ferro

doloroso, latia

E latia como se,

sem outra atitude

que pudesse tomar,

frágil e humilhado,

uma torpe canção

interminável cantasse

e a nota dessa melodia

somente uma era,

o sofrimento que

dele fluía

Ah quantos latidos

chorados, quantos

gemidos tocantes

na tarde que morria,

todavia ninguém

poderia ajudar

ao coitado do cão

acorrentado,

ao bicho amargurado

que, por isso,

latia e latia.

Gilbamar de Oliveira Bezerra
Enviado por Gilbamar de Oliveira Bezerra em 18/05/2013
Reeditado em 18/05/2013
Código do texto: T4296771
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