ANTES E DEPOIS DO ANTES
Antes era uma vida, uma revelação de escolhas, sem a permissão da dor.
Antes era uma morte, um fechar de olhos, sem a concessão da vida.
Antes era um beijo, uma cuspida na própria face, numa face jamais beijada.
Antes era um abraço sem corpo, um corpo sem braços e pernas sem caminhos.
Antes não existia rosto, nem se produzia um escarro porque não existia boca.
Antes o todo era fácil porque o difícil ainda não fora criado.
Antes o sussurro era choro e o choro chovia tempestades de fuga.
Antes fugir era motivo e as estradas levavam a lugar algum.
Antes era um cadafalso sem forca, uma fogueira sem inquisição, um crime absolvido sem julgamento.
Antes era uma planta e antes que fosse depois, tornou-se praga.