Sapatilhas pretas
Não estou aqui para falar de sapatilhas,
elas não me competem.
Pela cor sim, e também.
Mas, quem as usa?
Sapatilhas pretas: elas são pretas, por isso.
Elas são pretas, entenda.
Pretas, escuras, esta é a questão.
Alguns dizem que tem cheiro doce,
outros salientam os laços;
mas a questão é que é preta.
Onde está a beleza,
senão em serem pretas?
Se não fossem pretas
não estaria eu aqui,
não estava lá a olhar, admirado:
são sapatilhas pretas.
Com as azuis não tenho gracejo
tampouco com as rosas.
Elas são pretas, por isso da minha tristeza.
Admirável mundo cego;
cego eu, que vê o mundo, mas ignora que é mundo - viramundo.
Elas são pretas,
sim, são sapatilhas pretas;
elas são pretas, e é isso que salta aos olhos.
Mas... quem as usa?
Do que adianta serem pretas,
se quem as usa tem coração obscuro?
Ponha as sapatilhas pretas
ao lado do negro coração.
Coração, coração, mais negro do que sapatilhas pretas.
Quem as usa, mesmo sendo pretas?
Esta deve ser a questão,
e não de serem, simplesmente, sapatilhas pretas.
Sapatilhas, sapatilhas pretas,
que iludem e seduzem corações!
Elas são pretas; o coração, pois, também o é?
Quem as usa?
Quem?
Quem as usa...
Esta é minha tristeza... quem as usa - uma, e não outra.
Quem as usa, que tem tal coração negro.
São pretas... são escuras;
aí esta minha tristeza, junto do meu afeto.
São pretas, como o coração...
Quem as usa... estas sapatilhas pretas...
São pretas, são escuras;
quem as usa, porém,
assim também tem seu coração - negro, trevoso.
Ilusão, ilusão, minha que é minha!
Vão são os olhares: às sapatilhas pretas não devo mais me ater.
Ao coração limpo: neste, eu devo me deter.
[...]
[01/05/13]
Cesare, em tudo capacitado pelo Senhor.