Gráfico da Morte

Gráfico Da Morte.

Primeiro foi tio João

Que não sabia nadar,

Afogou-se no Rio de Conta

E ninguém pode ajudar.

Depois morreu tio Levi

Mordido por uma cobra,

Jararacuçu perigosa

Que tem veneno de sobra.

Eu não conheci avós

Nem Belém e nem Dalila,

Me lembro que tia Raabe

Foi a próxima da fila.

Morreu de tuberculose

Nesse tempo não curava,

Se era moço ou se era velho

A morte sempre chegava.

Num surto de febre tifo

Vi muita gente morrer,

Como ainda era menino

Eu não entendia por que.

Eu vi morrer tia Lindalva

Tio Jeremias, vovô,

Meu tio Heron e tia Tereza

A morte também levou.

Dois irmãos que eu perdi

Morreram ainda criança,

Eles já nasceram mortos

Sem chance, sem esperança.

Ao longo da minha infância

Fui vendo a morte chegar,

Silenciosa e sorrateira

Chegava sem avisar.

Saí pro oco do mundo

E a morte me acompanhou,

Da parte de minha mãe

Acabei perdendo vovô.

E aqui no meu retiro

Perdi minha irmã Maria,

Perdi sogro perdi sogra

E até quem eu mais queria.

Minha mãe, que Deus a tenha

Descansou da lida dura,

Acabei chorando à distancia

O amargo da sepultura.

Meu pai também faleceu

Comigo nesse desterro,

Chorei sua morte de longe

E não fui ao seu enterro.

A morte nunca se acaba

Porque faz parte da vida,

Vi que estando distante

A morte é menos doída.

E nessa fila interminável

Cada um tem sua hora,

Não é por falta de costume

Que a gente lamenta e chora.

Guel Brasil
Enviado por Guel Brasil em 29/04/2013
Código do texto: T4265683
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