O QUE TE RESTA?
Se dois com dois são quatro
Não poderia ser vinte e quatro
Que me resta agora, senão, aceitar?
Fui de autoritário a justiceiro
louco, turrão, guerreiro
prosador e sonhador
Queria ser mocinho, solidário doutor
Mas se dois com dois são quatro
Não poderia ser vinte e quatro
O sonho me largou
Queria ser amigável, ouvir e ser ouvido
Como dois com dois são quatro
Não poderia ser vinte e quatro
A minha voz se calou
Era eu, o amante da justiça
Sendo dois com dois quatro
Não podendo ser vinte e quatro
Me tornei torvo
Eu, o viajante devaneado
Por ser dois com dois quatro
Não podendo ser vinte e quatro
Me tornei triste e fraco
Achava que restara a consciência
Ou a poesia
Será que ainda tenho rima?
Mas que resta agora, senão, aceitar?
Já que dois com dois são quatro
Não podendo ser vinte e quatro.