Nostalgia
Ah! Nostalgia, profunda,
Que revestistes em meu interior,
Espelhos rutilantes, que refletem
Realidades que não existem mais
Mergulhando o ser num poço de melancolia
Que te faz triste nos dias de ventura
Obscuro nos dias mais claros
Enquanto o presente oportuno
Escorre por entre os dedos
E a lívida sensação da vida
O faz querer morrer com o passado
Ah! Nostalgia, por que me feres?
És a maculada traça das lembranças
Que nos tira um sorriso e uma lágrima
Lamuria-se pelas dores que tu causas?
Ou sorria-te ludibriosamente?
Vida que é feita de presente,
Que a toda instante não o é mais,
Futuro que nunca tocaremos
Passado que jamais voltará
Perco-me em pensamentos -
Perguntando-me - se a única realidade existente
É aquilo que não temos...
Mas nem por isto quero tiraste a ti de mim
Carregastes em teu seio aquilo que chamo de vida
O tênue fio que nos liga ao inexistente mundo das lembranças,
E nos faz reviver aquilo que foi bom
E a dor que assola nosso coração
Provém da existência nobre daquilo que um dia existiu...
És a vida que nos dá os papéis em branco
Para escrevermos nossa história
A nostalgia nos faz reler com felícia melancólica
E a morte traz o ponto final
Assinando com a inexistência,
O que de fato faz a existência
Que o fim é que torna as coisas mais belas...
Ah! Nostalgia, és uma faca de dois gumes
Cortante como lâminas
Mas confortante como o sangue que extirpa
Das veias do suicida...
Ah! Nostalgia, o que tu és na verdade?
O demônio das lembranças do passado
Ou o anjo que representa aquilo que um dia foi belo?