Teme-se

Há um abuso de silêncio

na dor que a gente sente

quando o Sol deixa a Enseada.

Teme-se que a Lua não venha,

que a amada se esqueça

e que tudo nos entristeça.

Teme-se que tudo seja um engano,

ao alcance da primeira garra do cotidiano.

Teme-se a guerra,

e a vingança da Mãe-Terra

Teme-se o fim de um jardim

a morte de uma sabiá

e o plágio de um jasmim.

Teme-se o fantasma branco

da noiva de Minas,

que assombra as esquinas.

Teme-se o fim da cachaça,

o recomeço da mordaça

e o Congresso trapaça.

Teme-se a perenidade

desse quarto de hotel

e o terror de não se ter

para onde voltar.

E, por fim, teme-se o escuro da cena

e que este seja

o último poema.