Bordados de Bordel

São tristes as figuras no chenile pobre

das amarelas cobertas puídas...

O vento que sopra por trás das portas

conta os segredos que ouve no Bordel.

Conta dos brutos homens brutos

que viajaram muitas léguas

e agora repousam seus laços e corpos

em corpos sem laços.

Conta das tristes Madonas

que velam em seus toscos Oratórios

enquanto riem das mentiras benditas,

das verdades malditas

e das dores não ditas.

Conta dos riscos que as facas fazem

nos corpos que jazem.

Conta e reconta a miséria na entrada,

a doença e o abandono na saída

e o desamor por entre as coxas e a vida.

E mais ainda conta, pois há

uma fome eterna

nos amores desenfreados

e nas luxúrias dos tarados.

E há uma sede perene

pela santa cachaça ingerida

entre as pragas a Deus dirigidas

e as canções das mulheres-da-vida.

Sou a "Cigana dos Lábios Vermelhos"

e dos amores nos espelhos.

Sou a "Bola de Sebo" de Maupassant

e a rainha do Can-Can.

Sou Lara, a do tema.

Sou a cabocla Jurema,

Sou Iracema, sou Moema...

Sou a puta do Sistema.

Mas não ria.

A felicidade do teu riso

insulta a minha dor.