Lágrimas da Vida [ com Derek Soares Castro ]
"Sobre um rochedo que o mar batia,
Triste gemia um desgraçado"
(Almeida Garrett)
Sinto a vida como um lago
Recoberto pelas flores;
Águas turvas, onde vago
Mergulhando minhas dores.
São de lágrimas, querelas,
Os meus olhos, de oceanos;
São quais barcos sem as velas,
Naufragados pelos anos.
Águas frias e profundas
Cuja vida não há mais;
As nascentes são imundas
E o meu peito é o morto cais.
Pelas mortas, velhas águas,
Já vejo uma embarcação...
Nesse mar carpido em mágoas:
— Lá se vai meu coração!...
Pela névoa da descrença
Que me envolve delirante:
Vejo o barco da sentença,
Cuja morte é a comandante!
Nessa vida de asperezas,
São levados os meus dias
Nessas fortes correntezas
De ilusões, monotonias...
No convés do meu destino,
Estridente, roto e sujo;
Rola um canto! um brado! um hino:
— Mergulhai na dor, marujo!
Já sem bússola, sem norte,
Sou um barco a velejar...
Meu fadário ruma à morte,
Nesses prantos, nesse mar!
Fevereiro de 2013