INTENTO

Vá, se puder, e tente me esquecer em outras bocas, outros afagos, outras carícias... Outros olhos que queres achar o meu. Tente não chamar meu nome na tristeza de sua escolha...

Arranque-me do seu peito como velcro, que solta, mas te rasga; que traz um pedacinho teu, para que eu não vá ileso de tudo o que sinto. Coloca outro tão igual e diferente de mim, que não cabe no teu peito, nem ocupa meu lugar, tampouco te faz feliz como te fiz até com pesares, como pensares que meu cheiro não te fará falta, nem minha voz pacífica te alterará tão facilmente. Alguém que não seja eu, nem queira, nem anseias, nem lutes... Nem chores nos meus braços, nem diga que me amas, nem me toques, nem pense em mim com outro, pois passado o prazer o amor sempre fica.

Vá, se desfaça de pudor, desalentes, e confirmas o que já sabes... Não seja seletiva, não seja você, não me seja a pessoa que conheço, se torne irreconhecível, desmereça meu apreço, mereça meu desamor. Assegures que não tocarás meu corpo, porém, outro será teu assim como fui, com outra voz, outras frases, outras palavras diferentes das que pronunciei entre nosso trançado de pernas, ou às vezes em que o silêncio nos cantou a mais bela canção com grandes orquestras inanimadas.

Diga ao menos que não chorou, que não ouviu música, nem me leu; que em momento algum se quebrou e se reconstruiu com pedaços imperfeitos do que restou de nós, que quis entregar os pontos e dizer o que dizias outrora, que pensou em partir planejando minuciosamente a volta tão esperada, com gosto de amor, com gosto de lágrima, com barba no teu rosto, mistura de peles, de cheiros, de sensações, nossas...

Vá, e se puder, traga-me um pouco de você.