Tristeza não tem fim
Tudo pode estar claro como um dia
Que ainda assim é noite;
Basta que escureça o coração.
Quanta agonia na alma do poeta
Se os ventos sopram ameaçadores.
O céu de cinza e chumbo desaba;
Ainda bem que caem gotas.
Porque só Deus controla a sua mão.
As palavras cortam feito navalhas
Na carne; os nervos doem e tremem
No estranhamento do espírito.
Cada vez mais emudecem os sonhos.
Só que todos acham e exigem
Que tem que ser bela a poesia.
Tem horas que não adianta
Fingir que é dor uma dor deveras sentida.
As horas se estraçalham na vidraça
Feito pássaros perdidos que
Parece não quererem mais voar.
Os ninhos estão infestados de bestas
Que roubam seus filhotes distraídos;
A mentira, a falsidade traz o pranto
E fazem da própria natureza desencanto.