A face cética do amor

Fala-se de troca

De afeto, de carinho, de expectativas...

Entende-se ser de forma romântica

Com suaves e curtas esperas tanto mais sejam os desejos mútuos

Fala-se de trocas de sonhos esperando-se vivê-los juntos

Afinando-se os pontos de vista

Perdoando-se as divergências

Convergindo-se sem penitências

Fala-se de compreensão

De altruísmos

De dividir-se para depois conciliar

E que, apesar disso, ninguém irá se anular

Fala-se

Promete-se

Para si, para o outro...

Até tenta-se

Mas a palavra troca é o ponto

Vai se transformando em dívida e cobrança

Em déficit e superávit

Em exigências

Continua-se falando

Insistindo, persistindo, resistindo...

E tudo convive com um amor não cético

Cujo lastro que assegurou as trocas vai se extinguindo

E as verdades criadas vão se confundindo com as viscerais

As convenções armadas juntam-se em simbiose com as sentidas

E as trocas viram os espinhos num jardim espontâneo

Onde as ervas daninhas convivem entre flores que nem se vê direito

E nesse comércio ingênuo das trocas prometidas

Nessa ansiedade advinha que interpreta precipitadamente

São geradas doses venenosas de enganos e tristezas

De lástimas muitas vezes definitivamente