Sem poesia.
Fui embora muitas vezes.
Minhas lágrimas salgadas
Abriam o mar e minha âncora
Já corroída pela tristeza e
pela penúria das palavras
se perdeu...
Fui embora insistentemente
Batia a porta.
Colocava cadeados.
Tramelas que atravessavam passagem
E corrompiam o fluxo
dos pensamentos.
Partir era necessário,
Viver era apenas secundário...
Só é possível viver em fuga.
Correndo...
Socorrendo emoções que estão prestes
à morrer
Almas amarelecidas na prateleira
do carma.
Só é possível viver um
de cada momento
E se esgotar nas arestas dos tempos...
Nos espaços delimitados dos passos,
das palavras e da estória.
Fui embora.
Parti exatamente quando
arrumei a primeira mala.
Com a delicadeza aristotélica
de quem prepara a própria
forca.
Mas eu não queria o suicídio.
Queria viver sem os horizontes
cortejando o destino.
Sem as cortinas a
cegar o sol de todos os dias...
Queria viver...
Sem sofrer,
Sem sangrar.
E, sem dizer baixinho:
Eu perdi.
Perdida.
Tropecei exatamente onde
eu mais temia...
Não fiz diferente.
Não alterei os anais.
Não salvei a pátria.
Eu parti
Para não ficar partida
Sem nexo
Sem verso
E sem poesia.