Sem poesia.

Fui embora muitas vezes.

Minhas lágrimas salgadas

Abriam o mar e minha âncora

Já corroída pela tristeza e

pela penúria das palavras

se perdeu...

Fui embora insistentemente

Batia a porta.

Colocava cadeados.

Tramelas que atravessavam passagem

E corrompiam o fluxo

dos pensamentos.

Partir era necessário,

Viver era apenas secundário...

Só é possível viver em fuga.

Correndo...

Socorrendo emoções que estão prestes

à morrer

Almas amarelecidas na prateleira

do carma.

Só é possível viver um

de cada momento

E se esgotar nas arestas dos tempos...

Nos espaços delimitados dos passos,

das palavras e da estória.

Fui embora.

Parti exatamente quando

arrumei a primeira mala.

Com a delicadeza aristotélica

de quem prepara a própria

forca.

Mas eu não queria o suicídio.

Queria viver sem os horizontes

cortejando o destino.

Sem as cortinas a

cegar o sol de todos os dias...

Queria viver...

Sem sofrer,

Sem sangrar.

E, sem dizer baixinho:

Eu perdi.

Perdida.

Tropecei exatamente onde

eu mais temia...

Não fiz diferente.

Não alterei os anais.

Não salvei a pátria.

Eu parti

Para não ficar partida

Sem nexo

Sem verso

E sem poesia.

GiseleLeite
Enviado por GiseleLeite em 07/02/2013
Código do texto: T4127576
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