POR TRÁS DOS OLHOS

Olhos de uma senhora,
Perdidos no agora,
De um perímetro movimentado,
Olhos tingidos,
Pelas cinzas do passado,
Lembranças de um tempo ido,
Mas, contido no seu interior,
Tempo de um corpo vendido,
Possuído por homens vorazes,
Insensíveis, incapazes,
De perceberem por trás dos olhos, a dor.
Olhos que fazem a releitura,
De cada instante amargo vivido,
Instantes de quase loucura,
Não por que ela queria,
Ou por que era uma vadia,
Ela necessitava,
Fora lançada naquelas esquinas,
Ainda moça, corpo de menina,
Não tinha escolha, ou dava,
Ou apanhava,
O nobre genitor exigia,
Olhos de quem conseguiu sobreviver,
A tantas noites escuras,
Aos vieses de uma vida dura,
A alma ainda geme,
Corpo treme,
Dentro do vestido,
Ela bem sabe, deveria,
Mas, não consegue esquecer,
Que perdeu a sua mocidade,
Sendo moeda de pouca durabilidade.