PERTO DO CORAÇÃO

Maria morreu; pobrezinha!
Ficava ali, de casa em casa,
De calçada em calçada,
Sempre sozinha,
Às vezes, falava,
Luzia divina ternura,
Às vezes, nada dizia,
Às vezes voava... nas asas,
Tortas da loucura,
Se encontrava, ou se perdia
Na noite misteriosa, escura.
Sobrevivia do que ganhava,
De alguns corações bons,
Maria tinha vaidade,
Gostava de usar batom,
De pintar as unhas,
Do seu jeito, é verdade,
Com as sobras da manicura,
Só ficava brava,
Quando era abordada,
Sobre o seu passado,
O olhar se entristecia,
Maria se recolhia,
Em um mundinho tão seu,
Maria morreu,
Encontraram seu corpo franzino,
Bem de manhazinha,
Um vestido roto,
O compunha,
Algo chamou atenção,
Havia uma velha foto,
De um menino,
Perto do coração,
Maria morreu - desenredo,
Morreu com seus segredos,
Foi enterrada em cova rasa,
No singelo funeral,
Parece que se ouvia,
Um réquiem angelical.