Cicatriz

Marcaram o fim do mundo,

A gente deu muita risada;

Só um vaticínio vagabundo,

Um vaso furado no fundo,

Que não podia dar em nada...

A morte veio fria, sorrateira,

Ceifou uma farta remessa,

De gente centrada e ordeira,

Vidas começando a carreira,

E a fonte do pranto não cessa...

Bandeiras param, meia escalada,

Escuras tarjas marcam camisas;

Festas foram todas canceladas,

As atenções impotentes voltadas,

Num ombro menor que se precisa...

As palavras acusam sua fraqueza,

Não podem nada no reino da dor;

Meros veículos carreando tristeza,

Onde o silêncio logra a mesma proeza,

Segundo a índole do seu portador...

Ante às marcas da sina medonha,

Todas futilidades perdem a vez;

A vida inquieta-se sobre a fronha,

Dona morte deveria ter vergonha,

Afinal, você viu o que foi que fez?

O tempo ameniza a dor, o pranto,

Mas, devendo correr, detém a perna;

Vai moroso porque doído, tanto,

Com a ajuda do Espírito Santo,

Consola, mas, a cicatriz é eterna...