AO MEU AMIGO MAIS ANTIGO
Republicação na manhã de 28 de janeiro de 2013
O meu amigo mais antigo
está muito cansado
como alguém que acabou
de atravessar a nado
um rio imenso e fundíssimo
o rio que o contempla
assim cansado
de uma das margens
com a saudade
que todo rio
tem das paisagens
que passaram
ao largo e ao longo dele
no decorrer de tantos
os seus tempos
tempos tantos
de rio tão largo e fundo.
Assim como tu, amigo,
também nos contemplo
de uma das margens
do rio imenso e triste
com a saudade
dos tantos mares que não fomos
no rosto
do rio triste que permanecemos
ao longo e ao largo
nos fundos, tão fundos
contra-tempos
aos quais sobrevivemos
precariamente
sob o peso
das muitas idades
no vão do Tempo
sempre, desde o sempre
a ocultar-nos seu rosto
e, sob o seu, para sempre ignotos
os rostos meu e teu
estes tão tristes
estes tão nossos rostos exaustos.
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