Primavera em Ruínas [ com Derek Soares Castro ]
"Invejo as flores que murchando morrem,
E as aves que desmaiam-se cantando
E expiram sem sofrer..."
(Álvares de Azevedo)
Minhas dores são sinceras,
Feito as feras, são reais.
Sofro desde as priscas eras
Nas galeras dos meus ais.
Acompanham-me os pesares,
As dolências e as tristezas;
Trago junto a mim milhares
De infindáveis incertezas.
Acompanha-me o caminho
Da fatídica ilusão,
Morta rosa e largo espinho
À sangrar-me o coração.
Quanto mal trago no peito
Que ao passar dos árduos anos,
O meu seio se fez leito,
De aflições e desenganos!
Os meus olhos lacrimosos
Já sem luz na mocidade;
Perambulam tortuosos
Nos escombros da saudade.
Só me tem no triste rosto
Qual do mar as vagas frias,
A amplitude do desgosto,
— Mar de lágrimas sombrias.
Meus cabelos têm caído
Como as folhas outonais;
Forma o livro desprendido:
— Só co'as páginas finais!
Já tão cedo, a flor da idade
Pende na haste a solidão;
No jardim da mocidade:
— Morta flor, meu coração!
Entre 25 e 26 de Janeiro de 2013
*Nestório da Santa Cruz - 1ª, 3ª, 5ª, 7ª estrofes
*Derek Soares Castro - 2ª, 4ª, 6ª, 8ª estrofes