Sem fé
Quando um pássaro machucado cai de um galho,
parte seu destino em fragmentos de uma dor solitária,
luta contra a dor lancinante para se pôr de pé,
percebe que voar é agora um sonho distante,
memórias de uma vida que não lhe acolhe mais,
sonhos de outrora na realidade esfacelada de tristezas,
suas asas não lhe conduzem mais na carona dos ventos,
suas penas não balançam mais no atrito da liberdade,
o céu está tão distante de si como o universo,
sente-se atado ao chão na conspiração da gravidade,
seu coração busca uma explicação racional que lhe conforte,
como ter fé quando se está aprisionado em grades invisíveis?
como esperar mudanças positivas se só existem lágrimas em si?
Não há mais voos,
Não há mais voos,
Só há essa gaiola de saudade...
Talvez haja algum tipo de comédia dramática escrita sorrateiramente,
a melancolia soprando um assovio sem volta nos ouvidos alheios,
o sapateado de um tolo na beira de um abismo sem fim,
no momento em que Deus e Einstein jogam xadrez no infinito,
esquecendo as mazelas que torturam as almas humanas,
deixando o livre arbítrio conduzir ações, reações e decisões,
enquanto amizades se perdem, amores terminam, vozes se calam,
janelas se fecham, portas se trancam, luzes se apagam,
o horizonte já não responde mais às angústias da alma,
os sentimentos tornaram-se peças deslocadas de um puzzle,
não há como segurar a água corrente em mãos trêmulas,
então como ter alguma fé em um porvir que se dissipa no ar?
como esperar o melhor quando só há a desilusão da ausência?
Não há mais voos,
Não há mais voos,
Só há essa areia movediça...