Abandono

Ontem morreu a última das acácias.

Seguiu o destino dos outros abandonados.

Antes, foram alguns poemas,

algumas figuras, algumas cores.

Algum contentamento.

Na casa, nada mais ecoa.

Nenhum riso quebra o silêncio.

Tampouco algum choro,

pois estes secaram

como os rios que

os homens aterraram.

Os amores se foram.

Alguns lentamente.

Outros, com a urgência

de quem quer esquecer.

Deles, alguma lembrança ficou,

mas todos os rostos vão se fundindo

em apenas uma face distante.

As crianças se foram.

Estão longe. Mudaram de Mundo.

Cresceram. Esqueceram.

Foram-se as ilusões,

as vaidades, as esperanças,

os medos, as desilusões.

Tudo passou.

Resta o mofo,

resta o abandono,

resta a espera.

A última espera.