A Espera

Ontem morreu a última das acácias.

Seguiu o destinos dos outros esquecidos.

Antes, foram alguns poemas,

algumas figuras, algumas cores.

Na casa, nada mais ecoa.

Nenhum riso quebra o silêncio.

Tampouco algum choro,

pois estes secaram

como os rios que os homens aterraram.

Os jornais amarelados,

amontoados no canto da escada,

ainda ostentam suas inúteis manchetes.

Mas tudo que disseram foi em vão,

pois a marcha do Mundo

pouco fez de suas noticias.

Alguns amigos morreram.

Um deles, mudou-se para Goias.

Outros faliram e outros fingem

que não nos reconhecem.

Os amores se foram.

Alguns lentamente.

Outros, com a urgência

de quem quer esquecer.

Talvez alguma lembrança permaneça,

mas todos os rostos vão se fundindo

em apenas uma face distante.

As crianças já estão longe.

Cresceram. Mudaram. Esqueceram.

A mão, que um dia se pensou capaz de criar

está fria, dura, sem vida. Nada mais constrói.

Estão inertes, como a vontade.

Tudo passou. Foram-se as ilusões,

as vaidades, as esperanças,

os medos, as desilusões.

Resta a espera.

A última espera.