Grão de areia
Tenho andado por uma casa vazia,
equilibrando-me em calcanhares de vidro,
sentindo o peso de anos de tristeza infinita,
recolhendo os fragmentos de sonhos desfeitos,
soprados ao sabor de um inverno gélido em minh'alma,
na sorrateira dor de desilusões que assombram os arredores,
sinto-me um pássaro engaiolado em meus temores,
prisioneiro de minhas amarguras "mal ditas",
em uma arena de gladiadores mudos,
gritando o silêncio de suas agonias para ouvidos surdos,
enquanto aguardam uma morte sem honrarias...
.
Tenho percorrido a borda de um abismo,
balançando-me em arames farpados,
desconectando existências tão vãs em passados perdidos,
embaralhados em um pôquer de derrotados,
no carteado de abandonos que me visitam todas as noites,
sinto-me um grão de areia soterrado por uma avalanche,
na claustrofobia de meus insanos pensamentos,
sussurrando "socorro" em um deserto de cactos,
enquanto minha esperanças se esvaem sem testemunhas...