POR UM MOMENTO APENAS
Só posso te tocar agora,
Quando as vozes afoitas não buscam
Aventuras arredias.
No momento em que os corpos desfalecidos
Pelo torpor do sono se esquecem de tua
Presença e desse olhar profundo a me fitar...
Só posso te tocar agora,
Pois permaneço a esperar - te
como outrora com a mesma ânsia
De em teu corpo me aninhar.
Só posso te abraçar agora,
Quando todos se foram,
E o circo encerrou seu derradeiro ato
Onde a crendice isolou aparatos
E o silêncio recobriu teu ser.
E nós, só nós,
Na saudade que a ausência trouxe
Na solidão da carne e na presença
Do espírito sussurramos juras que
Jamais serão ouvidas por alguém.
Só posso te tocar agora,
Pois a relíquia do amor que
Nos unia, voltará a cada instante,
Hora e dia, pois a saudade nunca
Vai nos separar...
CRS
28/02/83 - Publicado no Diário Mercantil/JF.