Escolha
Posso escolher as palavras,
mas não os pensamentos
Posso escolher os signos,
mas não os sentidos.
A face que tem a tessitura
enigmática e sombria
Os olhos que não revelam
o que viram,
o que testemunharam.
Em silêncio ritualístico e
cúmplice.
E submisso ao segredo.
Os olhos trágicos que
inertes apenas filmaram
a cena.
O mundo é um objeto
olhado, revistado e escolhido.
Posso escolher as palavras.
Mas não posso escolher os ventos,
as tempestades,
os raios e nem as catástrofes.
Posso escolher os caminhos
Mas não posso escolher as pedras,
os infortúnios,
a trama genética em minhas veias
a estória tramada em minha origem.
Posso escolher aquilo que sei.
Mas não posso escolher
o que nunca saberei.
O que de mim foi oculto.
Posso escolher...
Apenas entre as opções visíveis.
Sou iludida a escolher
Ou a fingir que escolho.
Vagando num
devaneio torpe de liberdade.
Nada escolhi.
Definitivamente não sou optante.
Nem do caso e nem do acaso.
O aleatório e fortuito não existem.
É apenas o previsível,
diagnosticado por gestos,
palavras e ventos.