Escolha

Posso escolher as palavras,

mas não os pensamentos

Posso escolher os signos,

mas não os sentidos.

A face que tem a tessitura

enigmática e sombria

Os olhos que não revelam

o que viram,

o que testemunharam.

Em silêncio ritualístico e

cúmplice.

E submisso ao segredo.

Os olhos trágicos que

inertes apenas filmaram

a cena.

O mundo é um objeto

olhado, revistado e escolhido.

Posso escolher as palavras.

Mas não posso escolher os ventos,

as tempestades,

os raios e nem as catástrofes.

Posso escolher os caminhos

Mas não posso escolher as pedras,

os infortúnios,

a trama genética em minhas veias

a estória tramada em minha origem.

Posso escolher aquilo que sei.

Mas não posso escolher

o que nunca saberei.

O que de mim foi oculto.

Posso escolher...

Apenas entre as opções visíveis.

Sou iludida a escolher

Ou a fingir que escolho.

Vagando num

devaneio torpe de liberdade.

Nada escolhi.

Definitivamente não sou optante.

Nem do caso e nem do acaso.

O aleatório e fortuito não existem.

É apenas o previsível,

diagnosticado por gestos,

palavras e ventos.

GiseleLeite
Enviado por GiseleLeite em 09/01/2013
Código do texto: T4075968
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