Assovio solitário

Há um assovio solitário na noite,

uma brisa gelada machucando meu rosto,

uma lágrima no vidro de uma janela,

uma casa sem fotografias nas paredes,

uma estranheza no dedilhar de um violão,

quando a música se torna muda aos sentidos,

os passos à dois pés caminham solitários,

tropeçando em soluços e erros,

perambulo enviesado por ruas sem rumo,

buscando um sentido para existir,

tateando no escuro por um interruptor de alma,

a escuridão me cobre com seu manto melancólico,

ouço o uivo de um lobo imaginário em colinas de tristeza,

procurando nas sombras um movimento não-linear,

um impasse que me dê razão para sobreviver a mim mesmo,

observando as águas de um rio desembocarem num mar distante,

pensando nos barcos de pesca ancorados em um pier vazio,

tendo minha angústia presa numa rede abandonada na margem,

açoitado por ondas de água salgada e areia num trânsito violento,

em meu coração um tambor soa como um clamor por amor,

entre tochas que lutam contra a ventania da praia,

sinto a dor singrando minha alma como navalha na carne,

os sonhos se perderam nesse oceano de desencontros,

só há o sussurro de conchas ao ouvido como consolo...