Estou sendo.
Estou comendo o esterco,
dantes comido por minha boca.
Estou vigiando o ilícito,
sempre olhado por minha pupila.
Estou também amando,
amando o vil e corrupto
por minh'alma sempre estatelada,
vigia do vil seco.
Ela não se cansa,
o impostor-eu
não se cansa
de ser a pedra que era.
Sem sangue, sem veias,
deliciando-se com estrume
e babando por mais fezes,
do vil pecado que afaga.
A mesma boca
que agora diz "basta!"
também come lixo,
e sente o leve gosto de vômito.
Indelicado? Não, apenas real.
Não se escandalizem,
o vômito paira no ar,
mas não sentimos mais o cheiro - no costume.
Estou amando café,
estou me importando com as vestes,
estou "apenas" sendo irreverente,
estou pensando no comer.
Estou murmurando,
estou odiando, estou assassinando,
estou morrendo, estou perecendo,
por favor, peço-te esperança!
Sou videira inútil em mim só,
estou sendo vaidoso,
estou sendo furioso,
vaidoso, luxurioso, maldoso [..]
Estou sendo desvaloroso,
não se iludam, estou perecendo!
Estou feliz em minha vildade,
estou fedendo de pecados.
Estou no cotidiano,
estou no computador,
estou calmo em guerra,
tranquilo em desespero.
Não ligo, não amo
importo-me em nada.
[..] Estou no outeiro,
estou errado achando-me correto.
Estou com saudades,
estou angustiado, estou apático
fedendo à opacidade.
Estou com meus vermes - e eles comigo.
Estou tentando apagar o sol,
estou rindo do mal,
estou escrevendo em letras vaidosas,
estou fumando meu orgulho - trago a trago.
Estou ouvindo abominação,
"como se fosse pela última" ele diz,
com humanismo,
com carnalidade, mundanismo..
Estou sendo humano.
Estou apenas sendo mais um pobre e miserável ser humano - e nada mais, nada mais.
Por isso preciso, preciso
nascer novamente - não do sangue, nem d'água,
mas sim do Altíssimo.
[10/12/12]
Cesare, em tudo capacitado pelo Senhor.