Um mísero inseto mudo
Gritam loucas as cigarras
Mas o desespero ainda ocupa o peito pútrido do poeta morto
Berram tontos os insetos malditos
E a insanidade é reprimida dentro do que resta de um corpo
E a tristeza é vulnerável como o tesouro em um cofre
Deus, como invejo as cigarras!
O grito, reprimido, ácido
Coração fechado
A mente repousa no espaço
Na face, a imagem de um retardado
Queima o peito em ciúmes, ardente
Perde-se o pecador em pecado demente
Luta o mártir contra a paixão torturante
Perde-se o poeta na insana busca pela palavra eloqüente
A loucura invade sua mente
O nojo de si próprio o mata lentamente
E assim, o grito agudo das cigarras ecoa em seu ouvido
A ostra, o cofre; anti-social: não há mais amigos
Não há forças para gritos
Deus, como invejo as cigarras!
(Novembro de 2006)