A última porta

Dia após dia esperei um sinal,

uma mensagem em uma garrafa,

um sussurro trazido pelo mar,

uma fumaça no topo de uma montanha,

uma carta escrita à caneta tinteiro,

um telegrama fonado nas tristes tardes,

mas só recebi silêncio, só recebi vazio,

e agora me perguntas porque estou distante,

me perguntas porque não sou mais seu confidente,

me perguntas porque não a olho como antes de tudo isso...

.

Dia após dia desejei uma palavra,

um pequeno verso em um pergaminho,

um beijo lançado ao vento,

uma música tocada por seu coração,

uma pintura com dois dedos de guache,

uma sms de celular na escuridão da noite,

mas só recebi abandono, só recebi esquecimento,

e agora me perguntas porque estou indiferente,

me perguntas porque não lhe escrevo mais recados,

me perguntas porque não a compreendo em seus problemas...

.

Dia após dia precisei cauterizar minhas feridas,

uma intensidade de dor tatuando minha alma,

mil açoites de fogo em meus pensamentos,

um grito de agonia sufocado em meus lábios,

uma desconstrução permanente de meus poemas,

um apagar de tudo que havia tornado alguns momentos felizes,

mas sobrevivi como pude à todas as tormentas do oceano,

e agora lhe digo que não consigo mais ser a pessoa de antes,

lhe digo que não consigo mais fingir que tudo irá mudar,

lhe digo que você fechastes em mim minha última porta...