Monólogo
Essa praça arquitetada
Sob a sombra de parcas nuvens
Projetam imagens arquivadas
na infância.
Esse vento a assobiar
as velhas cantigas de roda
misturadas com outonos
sem folhas mortas.
Os frutos ainda verdes esperavam
simplesmente o tempo passar
para serem devorados.
Alguns passarinhos vívidos cantavam
E furtavam o viço das frutas maduras
E os olhos espertos caçavam o
reluzir,o movimento
e as penas coloridas
que continham trinados mágicos.
E na sala, sentada permaneço.
Nesta sela sem cavalo
Ainda há um galopar.
Posso sentir a crina do cavalo
livre e imune ao tempo.
Você não está.
A casa lhe aguarda silenciosa
Lúgubre.
As paredes brancas estão
Lívidas a lhe esperar...
A chave se pronuncia na porta
Abre-se a porta.
E a sua presença se perfaz.
Feito monólogo a entoar:
Ser ou estar?
Ter ou sentir?
Racionalizar ou animalizar?
Sua chegada trouxe mais angústias
Suas dúvidas surram a porta.
E, deixa o destino arredio
em cárcere privado.
O resgate será amanhã de manhã.
Deverá ser pago a primeira hora da manhã
Logo após acordar da alma.
E se alma nunca acordar...
Paciência!
Esperarei o tempo passar
E quando não houver mais a espera.
Quando não houver mais conversa.
Quando não houver
seres perfeitos por suas imperfeições
E nem amores secretos
que confessam ódios evidentes.
Quando não mais houver
Um só lugar para a poesia.
Ainda restará o monólogo:
Ser ou estar?
Ser e carregar o pesado fardo
das virtudes e vicissitude humanas e animais.
O apenas estar...de passagem
Hospedado num corpo,
Provisoriamente...
Vestido de uma alma,
Contextualizado numa estória
Que ainda passa lá em baixo,
Bem sob a sombra de parcas nuvens
Numa tarde de final de primavera.
Onde o último lírio do jardim
Abortou o branco e
Nasceu todo sangrento.