As terras, um mar e muitas dores...
A lua paira cansada de enluarar
Sobre as águas de uma fonte da juventude:
As águas da beira de um mar
Que sonhou um dia com a quietude...
É o mar brasileiro que, brando e vil,
Fez-se patriótico primeiro.
É mar, é oceano e é água salgada,
Mas tem muitos, mil
Boêmios de um mar e meio
Que cantam a saída da jangada...
Alguns dormem ouvindo a música
Das aspirações errantes dos que já se foram,
Mas poucos escutam-na, pois é única
Canção melancólica dos que choraram...
Não tem forma física, mas é cínica
E faz de um marujo um dos que o margearam...
A música insiste insone e forte,
Com ar de tambores e som de trombones,
Uma música para falar de uma nação de grande porte:
Um Brasil para que tu abones...
Povo a nadar em mares de sortes mil...
Nação de uma dúzia de ricos
E de milhões de pobres...
É esse telefone sem fio
Uma inspiração para que, semelhante a micos,
Exterminem-te e sobres...
Oh canção das cidades sitiadas por ondas de calor,
Vem-me ouvir em meu canto a canção do meu amor,
É mais música, é mais samba, é mais ciranda, é mais dor
E eu sou seu íntegro, seu pobre e mero cantador...
Ah, virações das terras de Entre Douro e Minho,
Vós que viestes a carregar tão firme sobre o mar
Tinir de ferros, estalar de açoites, com teu carinho,
Legiões de homens negros horríveis a dançar!...
Quero-te, severa Musa, Musa libérrima, audaz,
Como se eu fosse teu cantador fugaz...
Terras que vieram antes, terra dos homens pensantes,
Terras que vieram terríveis nos tirar
A Terra dos Papagaios, a Terra das Araras, lindas a voar...
Essas terras que se foram deixaram um povo amante
De uma terra platônica a mirar
Uma serra cortante, um grito chocante a ecoar...
Oh homens falantes, oh mulheres amantes, oh mares do adeus...
Quero poetas cantantes, quero musas chorantes,
Quero todos, quero tudo, só não quero ser Deus...
Os Carnavais que fizestes e o samba que sobrou, deles sou vacilante,
Mas há um lugar de agora e um lugar de outrora e um lugar adiante...
Sou poeta, mas sou amante e sou um pobre e mero figurante...
Entretanto, há poetas que cantam o sonho de adeus
A uma terra para onde ninguém foi,
Mas que todos conhecem, porque Deus
Criou para que a música de amar se doe...
Essa terra tem bandeira, tem hino e vitórias,
É um país de hoje, um país de amanhã e de outrora...
Eis que lá tem gente que canta uma canção que tem a cara de todos...
É uma gente que, de tanta gente, deixa um ser todos...
É o país dos amantes da Musa Errante, onde tudo
Resume-se na dor de não possuir escudo...
Arraste-me para essa terra, formas pensantes!
Poetas, musas e amantes, abram-me as portas!
Quero-te terra dos seres poetizantes!
Não quero ser escrito em linhas tortas!...