OLHOS NO ESPELHO

O desenredo,
O tempo entre os dedos,
O medo, a ferida aberta,
A lagrima a rolar,
O lado estranho do ser,
A vontade de zarpar...
Rasgar o anoitecer,
Se perder,
No espaço ilimitado,
No mar agitado,
No naufrágio dos poetas.
Vontade de desnudar,
O corpo, o espírito,
Quebrar o silêncio,
Com um prolongado grito,
Libertar do íntimo tenso,
Multiplicados porquês,
Tantos eus em conflito,
De existir em você,
Como um ponto sem nó,
De não se sentir assim, tão só.
O olhar, o espelho, a imagem,
Os sentimentos contorcidos,
A ausência de plumagem,
Os afãs recolhidos,
E um noturno que cicia...
Anuncia, condena,
Liberdade...? apenas,
Nos traços da poesia.


- - - - - - - - - -

ESPELHO

 Não me olho, fujo dele,
tenho medo que descubra
de mim todas as loucuras,
que eu cometi na vida
por força, às vezes, da lida,
outras vezes só por gosto.
Agora que o sol já vai posto,
não me mostro arrependida.
Tudo tem seu tempo certo,
tudo tem a sua hora,
se caminho no deserto
é porque esse é meu fado,
nada pode ser mudado.
Acabou-se foi-se o tempo,
contratempo,
mas minha alma não chora,
porque de tudo inda resta
alguns vestígios da festa.
Resta ainda a alegria
de voar na poesia.


(HLuna)