A cara do abandono
Quando você se foi, Danou-se...
Danou-se os canos, os fios, as paredes,
O teto, tudo por seu desafeto.
Sem prumo , sem rumo, sem inquilino,
beduíno sem tenda, sem deserto
Ou deserto sem calor, sem beduíno;
Essa cara feliz é só fachada,
No fundo, não tem espaço,
Não tem teto, não tem sacada;
Tal qual a casa muito engraçada,
Mas agora não tem tem graça,
Não tem criança, não tem nada.
Na calada, um cão uiva solitário
Seus gemidos de abandono;
Não tem dia, não tem noite,
Só cores frias de inverno insano...
Descontentamento de não ter pátria,
Não ter esperança, não ter dono.
Até a preguiça perde o sono...