O MEU FIM

A noite chega,

Como sempre, impiedosa, convidativa,

Como uma serpente que atrai o pássaro para a morte.

Posso fechar a janela e a porta

Mas mesmo assim ela adentra meu quarto sorrateiramente

Através das frestas

As luzes da cidade lá fora se apagam com a sua chegada,

Como se reverenciassem a escuridão,

Rainha das angustias e comparsa dos amantes.

Eu me encontro num canto,

Envolvido por meus próprios braços

Pois nunca provei outro abraço,

A não ser o da solidão.

Vivo sob a custódia da vida,

Esperando impacientemente a velhice chegar

Tenho o corpo jovem,

Mas é apenas uma carcaça.

Minha alma idosa já deixou a desejar

Sou um abismo de contradição,

Mas sem a beleza, sem a poesia

Sou um fragmento não merecedor

De um digno fim

Me envenenei

Com minhas próprias palavras

Com meus próprios desejos e paixões

E agora pago por meus pecados.

Posso ouvir os passos lentos da morte

Subindo a escada que leva ao meu quarto

Traficande de almas perdidas

Morrerei sem ver seus olhos uma última vez

Minha sentença já está gravada em meus ossos

E não tenho legado algum pra deixar

A morte não espera, não tem compaixão

Não passa de uma miserável meretriz