Pequeno segredo sujo
Não quero ar puro,
por favor me deixe respirar um pouco
eu mesma,
ainda que um tanto nebulosa,
poluída.
Momentos felizes virão,
este com certeza não é um deles,
eu não ligo para isso,
sou o que tiver que ser,
o que tiver para ter.
As músicas mudaram,
andam um tanto quanto cinzas,
meio em blues,
foram-se embora as aquarelas,
as telas tem grades
impedindo a liberdade.
As águas revoltaram-se,
reviraram,
remoendo lembranças
de coisas que nem sei explicar.
Me deixe respirar
eu mesma
em círculos,
em círculos,
sem muito destino
nem lugar certo para pousar.
Me deixe respirar
Meus sujos segredinhos escondidos,
um dia eu volto
e a gente senta para conversar.
Clarice Ferreira
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