Amor insepulto
Numa manhã assim, tão igualmente,
Recordo-me de ti, que, fatalmente,
Fechaste os olhos para o eterno sono.
Derek Soares Castro
Lembra-te da lua sublime
Que p'lo céu se balouçava,
E o teu olhar a fitava,
Doce e sereno, mas firme?
E... quando o luar refletia
As luzes nos teus cabelos;
- Um trançar de lumes belos -
Que pela tua face pendia!?...
Tuas mãos de moça formosa
Ostentavam um livrinho!
Lias com tanto carinho,
Como uma ave mimosa,
Vagava por entre versos
De encantadora autoria,
De Renan a Alysson... ria,
Pois, tinha outro nos braços!
Guardou de Derek as flores
Mesmo que murchas... e mortas;
E sobre as lápides tortas
Depositaste os odores.
O amor nos brindava: amemos!
Tendo por teto um véu triste.
- Devo morrer!.. Não!... resiste!
E choramos... e gememos...
Mas éramos prometidos
Pela augusta mão da morte,
Que chegara austera e forte,
Juncada aos seios feridos.
Bem vindos! - dizia-nos ela
Sou coletora de amantes;
Não chego após, nem chego antes,
Mas venho buscar-te... Oh bela!
Gritei - Que dizes? Loucura?
Então, me vi tão sozinho...
Uivei de dor... sem carinho...
Por Deus - 'squecida criatura.
E tu te deitaste... oh bela!
Deitaste sem despedir-te,
Mas eu via que te partiste,
Então apaguei a vela...
Chorando... desesperado,
As lágrimas me feriam,
Por ver que meus olhos viam,
Teu corpo já sepultado.
Corri rumo ao alto monte,
Com o meu corpo tremendo,
E nesse exato momento,
Eu te encontrei no horizonte!
Agora a ti estou unido
Também no céu; e na terra,
Meu corpo insepulto aind'erra,
Sendo por vermes comido.
Mas nada, nada me importa,
Pois sem ter a tua presença,
Infligi-me a vil sentença...
Para amar-te! Oh, minha morta!...