Dia de morte

São fotografias, são roupas e retalhos,

Vestígios palpáveis ou apenas sugeridos.

Frases, fonética, e expressões.

As mãos traçando significados abstratos e concretos.

Todos os mortos pesam no fundo de nossa alma

O luto, as flores e o velório

As compulsivas lágrimas

Sobre o inexplicável e o súbito fim.

O cortejo até a tumba.

A campa e o número a conspirar na memória.

O esquecimento da perda.

Ou a perda do esquecimento.

Quando você morreu.

Amputaram-me a pouca família que tive.

Fiquei ao mesmo tempo órfã e insana.

O chão me faltava

O céu se fechava sobre a cabeça

Vestindo em mim a carapuça negra da dor.

Todos os mortos deitados no horizonte da finitude.

Corpos e restos mortais.

Mortalhas e imagens do que foi.

Fumaças humanas, espectros tingidos...

E sombras projetadas por velas que dançam.

E as preces ditas em voz alta

Rasgando o silêncio com fé e dor

Nesse dia como tantos outros dias

Sinto sua falta.

Choro por sua morte

Mas vim, hoje apenas

Agradecer por um dia você

Ter participado de minha vida.

De ter então feito de minha vida

Algo com significado e importância.

Minha mãe, minha avó e minha heroína

Saudades eternas

Amores intensos

E, quando minha hora chegar,

Tomara que nos reencontremos...

Para beber aquele licor tão doce

E inebriante capaz de nos fazer rir dos vivos.

Que passam que estão vivos,

Enquanto são apenas moribundos.

GiseleLeite
Enviado por GiseleLeite em 01/11/2012
Reeditado em 02/11/2012
Código do texto: T3964274
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