Dia de morte
São fotografias, são roupas e retalhos,
Vestígios palpáveis ou apenas sugeridos.
Frases, fonética, e expressões.
As mãos traçando significados abstratos e concretos.
Todos os mortos pesam no fundo de nossa alma
O luto, as flores e o velório
As compulsivas lágrimas
Sobre o inexplicável e o súbito fim.
O cortejo até a tumba.
A campa e o número a conspirar na memória.
O esquecimento da perda.
Ou a perda do esquecimento.
Quando você morreu.
Amputaram-me a pouca família que tive.
Fiquei ao mesmo tempo órfã e insana.
O chão me faltava
O céu se fechava sobre a cabeça
Vestindo em mim a carapuça negra da dor.
Todos os mortos deitados no horizonte da finitude.
Corpos e restos mortais.
Mortalhas e imagens do que foi.
Fumaças humanas, espectros tingidos...
E sombras projetadas por velas que dançam.
E as preces ditas em voz alta
Rasgando o silêncio com fé e dor
Nesse dia como tantos outros dias
Sinto sua falta.
Choro por sua morte
Mas vim, hoje apenas
Agradecer por um dia você
Ter participado de minha vida.
De ter então feito de minha vida
Algo com significado e importância.
Minha mãe, minha avó e minha heroína
Saudades eternas
Amores intensos
E, quando minha hora chegar,
Tomara que nos reencontremos...
Para beber aquele licor tão doce
E inebriante capaz de nos fazer rir dos vivos.
Que passam que estão vivos,
Enquanto são apenas moribundos.