Coração de Lata
Dentro das porcas e ferrugens,
Já não rodam engrenagens,
Nestas fracas asas de penugens
Meu coração nas ferragens!
Faltam nas roldanas as graxas
Apertar alguns frouxos parafusos
Na melancolia que te abraças
Diante dos sofrimentos confusos!
Soldando com cuidado os moldes
A afrouxar suas correias,
Como uma nota surta dos acordes
Que nas trevas incendeias!
Já não lhe serve o combustível,
Que agora enche o tanque,
Nem trocar-lhe pelo novo fusível
Ou lavar-te com sangue!
Arrefeceu este velho motor,
Que tão antigo agora se desata,
Perdera tudo, até esse amor,
Arrefeceu esse velho motor,
Tão antigo que agora se desata,
Perdendo tudo, até o amor
Frio como esse coração de lata!