UMA FLOR NA MANHÃ
Quando a manhã chegou não trouxe presentes
Nas brumas da aurora só silencio
Só vestígios da noite que foi...
Matizes de cinza num céu inamistoso
Tempestade a caminho?
Pranto dos céus?
A manhã trouxe suas lagrimas
A manhã flagrou a desilusão
Garrafas vazias sobre a mesa
Velhas cartas testemunhando outros dias...
Outros tempos...
Antigos sorrisos que não vão voltar
Poemas inacabados num bloco manchado
Paginas de tristeza rabiscada
A manhã chegou e veio espiar sua dor
Veio ver o véu que cobre seus olhos
Testemunhar teu trôpego andar
Patético...
Nos cantos dos lábios vestígios ressecados de velhos sorrisos
Sorrisos mortos...
No jardim ainda aquela flor
Teimosa em vicejar
Descuidada, negligenciada...
Abandonada...
E ainda viva
No jardim ainda a flor que ele agora odeia
A manhã veio beija-la
Veio saudá-la
Maldita seja a manhã
Maldita seja a flor
Da janela pode-se ve-la no jardim
Tao pequena tão frágil
E ainda assim tão forte...
Oh flor ela cuidou de você
Oh flor ela te regou
Oh flor ela te amou
Oh flor diga, por favor, que mundo é este que a manhã teima em trazer de volta?
Que mundo é este que a jardineira morre e a flor permanece?
Visões de seu semblante no jardim
A delicadeza dos gestos...
O negro dos cabelos...
A vivacidade do olhar...
A manhã veio lembrar que ela se foi
E não vai voltar...
Ninguém volta
A manhã chegou e não trouxe presentes
Só certezas
Só dores
A flor viceja no jardim
Um homem morto de alma a observa
E espera.