NENHUM FIM
Andei em ruas velhas vincadas de mistérios
Como a face desbotada de um ancião doente
Senti o frio que o vento trouxe
Era um vento de inverno assombrando nossa primavera estéril
Eu toquei os desejos secretos que pude perceber com o tempo
E cortejei o tempo de um tempo que não podia ser meu
Por que meu relógio não sussurra mais horas exatas?
Quando foi que perdi o discernimento do que era real?
E nas madrugadas torpes de mulheres sujas e bebidas baratas...
Eu me entreguei a buscas que não faziam sentido
Eu soube da noite em que o vomito secava na calçada
Eu soube do fedor podre que a boca desdentada da madrugada exalava
Eu soube de tudo...
E caminhei insensível por tristezas nauseantes
Torturado por melodias que nem BIRD poderia tocar
Ressoavam em minha mente canções que não podiam ser interpretadas
O céu escuro cobriu-se de um êxtase sem cor e dobrou-se
Eu vi o cavalo negro que trazia a fome...
Um ser sem sexo sem paixões e sem vontades
Apenas a natureza crua do que deve ser executado...
Senti a ânsia faminta de tantos ardores...
Fome de viver...
De devorar...
De gritar...
Eu vi os mitos mortos e ainda insepultos em longos e trágicos cortejos
Cobain calado e triste com gosto de heroína na cabeça
Ginsberg sem auto poesia gay e abusada
Blake sem mais palavras
Tudo é vastidão morta
Tudo é terra estéril
Tudo é sonho sem alma
Crias da morte
Morcegos de pesadelo
Eu vi tudo
E segui a margem sem flores nas aleias
Sem nem mesmo uma reles rosa ainda que negra e murcha
Eu andei conformado sabendo que esta era minha jornada
Ruas antigas vincadas de mistério
E nenhum fim.