Versos últimos [com Renan Tempest]
Eu morro! Eu morro!
(Álvares de Azevedo)
Quando eu morrer apaguem as estrelas,
Quero na noite a plena escuridão.
Odeio a dança ao crepitar das velas,
Em oração!
Queiro deitar-me à beira da lagoa,
E ter a terra por meu cobertor.
Dormir sorrindo, sem motivo, à toa
Co'a minha dor!
Beber das flores o perfume santo,
Sentir o abraço de todas raízes.
Fazer brotar sobre o meu peito morto
Dias felizes!
Ouvir o canto da manhã nos ventos,
Ter por regaço o ventre da natura
E deleitar-me com seus pensamentos,
Su'alma pura!
Que não exale de minha partida
A eterna melancolia do luto
Nem a vã alegria esvaecida
Que à noite escuto!
Anseio, solitário, perecer
E sentir findar-se-me a languidez;
Me ir destarte após a vida planger
Uma outra vez!
Eu não quero lágrimas nem entono,
Basta-me o meu suspirar que retumba,
Sôfrego de desejo p'lo atro sono
Na fria tumba!
Quando eu morrer, morra a lembrança minha,
E seja enterrada c'os sonhos meus...
Oh! Minh'alma soturna já definha!
Adeus!... Adeus!...
* Estrofes de 1 a 4 - Nestório da Santa Cruz
* Estrofes de 5 a 8 - Renan Tempest