Canário morto
Suas penas pálidas e amarelas
rijas e secas no fundo da gaiola
os seus olhos não mais viam...
vesgos tropeçavam nos espectros
de imagem
Sua farinhada tão querida
abandonada
Sem a sua presença
Sem o seu contato
Amarelo rajado de ouro cinza e branco
Era uma jóia que alegrava as manhãs
cantando
cantando
A liberdade mordida do bico
as unhas limadas cuidadosamente
e enfim,
a morte que o liberta
do canto,
da gaiola,
de meu domínio
e da
sorte de nosso encontro
nas encruzilhadas
perdidas de um lar
desfeito.
Solidão.
Hoje estou órfão de você.
Morrei assim órfão...
Até que um dia deixarei órfãos
sem saudades.