Concreto de dor

Há um brilho triste em seus olhos,

uma sombra de uma lágrima não chorada,

um lamento não proferido por seus lábios,

algo que não se afugenta com um sopro,

uma circunstância que se eterniza no calendário,

uma melancolia de tempos passados,

um labirinto de emoções desencontradas,

um suspiro de algo que não encontra um sentido,

um vazio interior ecoando solidão em cada gesto,

vejo você partindo sem sair do lugar,

me sinto de mãos atadas, aprisionado no espaço,

meus pés estão fincados em um concreto de dor,

meu coração bate num compasso desafinado,

tornei-me tão dispensável em sua vida,

tornei-me tão incapaz de satisfazer suas necessidades,

e agora questiono também a razão da minha existência,

se não há mais como fazê-la sorrir com leveza,

se não há mais como fazê-la ouvir músicas mesmo no silêncio,

se não há mais como fazê-la desejar um futuro melhor,

porque ainda estamos nesse ringue sem lutas?

O que fazemos nessa arena sem movimento?

Onde estão os clamores por nossa salvação?

Onde está a esperança de nos reencontrarmos?

Se tudo agora é só dor que nos sufoca o amor,

qual horizonte de mudança ainda nos resta?

É só isso que nós temos agora?

Uma foto esmaecida de uma época em que sonhávamos juntos...