MEU BARRACO
Não há estrelas no meu chão
eis porque piso apenas o barro
que está escuro, empoeirado
sem o brilho desses astros
No meu barraco não há luar
os pingos de chuva irritam
e entram por entre frechas
respingando-me o rosto
aqui não tem lirismo, só dor
num misto de fome e solidão
enquanto ouço disparos
que se prolongam na noite
Quando o amanhã chegar
o meu chão terá melancolia
do salpicar dos chuviscos
no barro sujo e empoeirado
Haverá corpos trucidados
jovens principalmente, mortos
deixando poças de sangue
como fel que amarga seus pais
Numa favela não tem estrelas
brilhando no chão dos barracos
tem uma lua triste e lúgubre
que chora a nossa miséria