OLHOS SECOS
 
Um homem sentado ao alpendre
Com seu olhar de boi manso
Contempla um fio de nuvem
Que some no azul do céu.
 
Aos seus pés, a terra seca
Onde brincam os seus filhos
De pés descalços e secos,
De olhos baços e secos,
Cabelos de arame seco,
E risos secos de fome.
 
"Quando será?..." um pergunta,
Estendendo-lhe a cuia vazia.
E o homem, com olhos de boi,
Aperta o chapéu contra o peito
Diz só: "Quando Deus quiser..."
 
Aos poucos, morrem-lhe os filhos,
Um a um, ele os sepulta.
Mas os olhos de boi manso
Há muito não choram mais...
 
Quem sabe, se Deus quiser,
Eles voltam a nascer
Do chão seco do sertão
Quando Deus mandar chover?





 
Ana Bailune
Enviado por Ana Bailune em 15/09/2012
Reeditado em 01/02/2017
Código do texto: T3883733
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