AS MESMAS COISAS
A tarde chegara em lento avanço
Ventava do leste
Um céu de chumbo sobre o litoral
Do velho álbum antigos retratos espiavam a luz difusa da hora vespertina
Dois drinques sobre a mesinha de centro
Musica suave no radio
Seria Chico Buarque?
A graciosa poltrona em tom verde a acomodara com conforto
Ainda com conforto...
Mãos cruzadas sobre as cochas e olhar ansioso
Voltara pra casa...
Nas paredes os mesmos quadros ostentando paisagens irreais
Ilhas de éden...
Batalhas medievais...
Na estante os livros continuavam como antes
Pacientes esperando pra contar de novo suas estórias
Num cantinho ainda estava complacente a estatueta de Buda
Destoando da decoração teimosamente
No chão ainda o tapete de pelo alto e cor neutra
A casa pouco mudara
Havia naquele ambiente um antigo mundo que o progresso do tempo não tocara
As mesmas coisas...
Tudo igual diziam a ela seus olhos
As mesmas coisas...
Então ele entrou na sala vindo da cozinha
Olhos escuros como a noite sem estrelas
Barba por fazer
Na boca nenhum sorriso
Era um rosto cansado
Não era feroz
Era triste...
Era duro...
Silencioso sentou-se diante dela
Frente a frente olhos nos olhos
E então ela soube...
As mesmas coisas...
Tudo igual...
Sentiu que perdera uma importante batalha
As mesmas coisas...
Sim...
Tudo igual...
Apenas ele mudou.