OMISSÃO
Parece-me que jamais estive tão triste...
Tão assombrosa esta cena!
O garoto moreno, magro,
apenas um menino.
Deitado no frio da calçada,
derrubado em sono profundo,
do qual não consigo trazê-lo.
Toco-lhe os cabelos.
Mas ele não vem.
Um torpor causado
talvez pelo cheiro da cola,
talvez pelo amargo destino.
Não suporto mais ver isto!
Não sei o que fazer.
Os carros luxuosos passam.
As pessoas desviam-se dele,
sem sequer vê-lo.
É tão banal assim uma criança,
caída no chão úmido do inverno?
Quero chorar, quero despertá-lo,
quero levá-lo comigo.
E nada faço.
Vou embora.
As lágrimas
— de dor, de impotência, de revolta, de omissão —
seguem comigo.
O meu próximo,
o meu mais próximo neste momento,
a quem devo amar como a mim mesma...
E não consigo acordá-lo.
Mas... acordar para quê?!